Estou
flutuando em um abismo.
Foi
exatamente assim que pensei enquanto mergulhava pela Dolina da Água Milagrosa,
um paraíso escondido no interior de Mato Grosso, há cerca de 20 km da cidade de
Cáceres - MT.
Havia visto
na internet diversas vezes um mergulho em Primavera do Leste, na conhecida
lagoa da lua, pensei em fazer e então entrei em contato com o Rogério Perdigão,
instrutor de mergulho. Soube a respeito dele em um post sobre a lagoa da lua.
Resolvi
arriscar.
Entrando em
contato soube que só teria mergulho em primavera do leste por volta do dia
17/05, mas que no fim de semana seguinte fariam um em Cáceres, disse que também
era tranquilo e que não haveria problemas pra uma iniciante em mergulhos.
Passei o feriado pesquisando sobre essa dolina e cogitando a pensar na
possibilidade de ir ou não. Na sexta-feira entrei em contato de novo com o
Rogério, recebi algumas instruções e pronto, era só aguardar o sábado. Ainda na
sexta-feira à noite comecei a organizar a mochila: roupa de banho, toalha,
protetor solar, blusa de frio, alguns biscoitos, seria suficiente para o fim de
semana. Fui informada que não ficaríamos na cidade e sim em uma pousada, por
isso não podia esquecer ao menos o essencial.
Sábado de manhã, eram quase 7 horas quando
cheguei na escola(de mergulho), o ponto de encontro. De cara encontrei o
Rogério, o Beto, e algumas outras pessoas que também iriam conosco. Eu como não
tenho veículo, fui de carona com o Roger.
Chegando
em Cáceres, paramos em um posto pra beber água e ir ao banheiro. Também era o
ponto de encontro na cidade. Ali ficamos aguardando o restante do pessoal
chegar da estrada para seguir para a fazenda onde ficava Dolina, uma
propriedade rural a cerca de 20 km da cidade, sendo uma parte dele asfaltado e
outro não (muito ruim esse trecho inclusive).
Ainda no
período da manhã subimos montanha acima para mergulhar. Um pequeno trecho é
feito de carro até chegar no início da escadaria. Lá a equipe prepara todos os
equipamentos para descer enquanto nos arrumamos também. A primeira parte do
desafio é descer as escadas, cerca de 200 degraus desnivelados, uns maiores e
mais altos que os outros… assim até chegar ao primeiro tablado. Depois mais uma
descida feita pelas pedras também até chegar ao segundo tablado que já fica na
água. A partir de então é só aproveitar e esperar sua vez para mergulhar.
Comigo demorou um pouco, esperei até que outros mergulhadores descessem e
voltassem para “me buscar” risos. Nesse tempo aproveitei para mergulhar mais
raso, flutuar com snorkel e já conhecer o “ambiente” que me esperava.
Minutos depois o instrutor voltou e havia chegado a hora: minha vez de
mergulhar. Fui equipada quando desci da plataforma, recebi algumas instruções e
fiz um breve treino e pronto, lá estava eu descendo. A princípio o que passou
pela minha cabeça foi medo: a mascara incomodava, o cilindro parecia cair, o
regulador ia sair da boca e eu morreria afogada logo em seguida, pronto. Era
tudo o que eu precisava para a respiração ficar ofegante e eu consumir mais ar
do que eu deveria. Segurando na minha mão, o instrutor foi me passando calma,
fazendo gestos para eu respirar mais devagar e bater as nadadeiras. A essa
altura já estávamos a 18 metros. Além disso, ele fez gesto para o ouvido, como
se perguntasse se eu estava tirando a pressão como deveria. Continuamos
descendo quando fui tirar pressão do ouvido e senti que tinha mexido demais na
máscara, um leve lasco de água passou na meu nariz. Fiz sinal pro instrutor e
ele respondeu(em gestos) que ainda dava pra continuar. Segui mais um pouco e
quando fui tirar a pressão do ouvido senti de novo. Fiz sinal de que precisava
subir e ele foi mexendo no meu regulador pra fazer o caminho da volta. Foi
engraçado por que, enquanto nós subíamos, eu grudei no braço dele como quem
tivesse arrastando a outra pessoa de um lugar. E estava. Arrastei ele até eu
chegar na superfície de novo.
Rogério e Eu |
A segunda
descida, ainda no sábado, foi mais tranquila. Consegui curti os peixinhos no
fundo, os paredões, o altar… cada canto observado me fazia esquecer onde e como
estava, apenas a curiosidade e o fascínio estavam do meu lado. Dois deles me
chamavam a atenção. O primeiro foi o casamento.Como? O que fizeram? A
preparação? Pensava. Que loucura. A segunda curiosidade é o fato de lá ser um
verdadeiro abismo submerso, lembrava do Rogério falando que já havia descido a
173 metros e não encontrou o fundo. Uau. Olhando de longe o que se via era
apenas uma escuridão azul, quando aproximava enxergava os paredões. Estou
flutuando em um abismo. Engraçado é que parece que esta indo para frente, mas
na verdade estava indo para baixo, baixo, mais baixo. Minha respiração dizia
que estava cansada e precisava preparar para começar a subir. Fiz sinal para o
Rogério avisando que ia subir ele me acompanhou. Enquanto subia prometi que
aquele seria o primeiro de muitos outros mergulhos que eu faria na vida.
Mergulho no Domingo |
O mergulho
do domingo foi ainda mais gostoso. Parecia estar acostumada com aquela
atividade e a descontração com a galera e o dia anterior me fizeram esquecer o
medo que tinha de mergulhar e até mesmo de entrar em um lugar cheio de água que
não me desse pé. Pulava na água, flutuava, brincava com o snorkel, tirava
fotos. Qualquer paradigma sobre mergulho eu havia quebrado ali, naquele fim de
semana. Mergulhei a mesma profundidade do dia anterior mas sem cansaço, medo.
Me senti mais leve.
Para quem
se interessou pela prática, esse é o contato para mergulho em Cáceres: Rogério
Perdigão: (65) 8132 8788 ou 3023 6080 da West dive Escola de Mergulho. Pode
fechar direto com ele também a reserva do quarto da pousada, caso queira
hospedar lá. Se precisar de mais dicas, aqui ao lado temos o formulário,
ficarei muito feliz em poder ajudar.
Até a
próxima.