domingo, 22 de maio de 2016

Uma vida interessante

Minha crônica preferida:

"E, se eu lhe disser que estou com medo de ser feliz pra sempre?" pergunta ao seu analista a personagem Mercedes, da peça Divã, que estréia hoje em Porto Alegre.

É uma pergunta que vem ao encontro do que se debateu dias atrás num programa de tevê. O psicanalista Contardo Calligaris comentou que ser feliz não é tão importante, que mais vale uma vida interessante. Como algumas pessoas demonstraram certo desconforto com essa citação, acho que vale um mergulhinho no assunto.

"Ser feliz", no contexto em que foi exposto, significa o cumprimento das metas tradicionais: ter um bom emprego, ganhar algum dinheiro, ser casado e ter filhos.

Isso traz felicidade? Claro que traz. Saber que "chegamos lá" sempre é uma fonte de tranqüilidade e segurança. Conseguimos nos enquadrar, como era o esperado. A vida tal qual manda o figurino. Um delicioso feijão-com-arroz.

E o que se faz com nossas outras ambições?

Não por acaso a biografia de Danuza Leão estourou. Ali estava a história de uma mulher que não correu atrás de uma vida feliz, mas de uma vida intensa, com todos os preços a pagar por ela. A maioria das pessoas lê esse tipo de relato como se fosse ficção. Era uma vez uma mulher charmosa que foi modelo internacional, casou com jornalistas respeitados, era amiga de intelectuais, vivia na noite carioca e, por tudo isso, deu a sorte de viver uma vida interessante. Deu sorte?

Alguma, mas nada teria acontecido se ela não tivesse tido peito. E ela sempre teve. Ao menos, metaforicamente.

Pessoas com vidas interessantes não têm fricote. Elas trocam de cidade. Investem em projetos sem garantia. Interessam-se por gente que é o oposto delas. Pedem demissão sem ter outro emprego em vista. Aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. Estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. Começam do zero inúmeras vezes. Não se assustam com a passagem do tempo. Sobem no palco, tosam o cabelo, fazem loucuras por amor, compram passagens só de ida.

Para os rotuladores de plantão, um bando de inconseqüentes. Ou artistas, o que dá no mesmo. Ter uma vida interessante não é prerrogativa de uma classe. É acessível a médicos, donas de casa, operadores de telemarketing, professoras, fiscais da Receita, ascensoristas.

Gente que assimilou bem as regras do jogo (trabalhar, casar, ter filhos, morrer e ir pró céu), mas que, a exemplo de Groucho Marx, desconfia dos clubes que lhe aceitam como sócia. Qual é a relevância do que nos é perguntado numa ficha de inscrição, num cadastro para avaliar quem somos? Nome, endereço, estado civil, RG, CPF. Aprovado.

Bem-vindo ao mundo feliz.

Uma vida interessante é menos burocrática, mas exige muito mais.

Martha Medeiros, em 22 de março de 2006.

Ushuaia - Mochilão 2015

Em alguns post anteriores descrevi um pouco da experiência do meu primeiro mochilão e de como foi para eu chegar lá. Andei pensando e achei legal então contar um pouco mais detalhes sobre minha passagem pela Patagônia, começando claro por Ushuaia.

Meu embarque para Ushuaia foi as 4:40 da manhã de segunda feira e a chegada estava prevista para as 09 hs. Na madrugada, antes do voo tomei bastante vinho, o que permitiu relaxar o meu corpo e descansar por pelo menos 2:30.

Depois que acordei já não consegui dormi mais por causa do frio, mas fiz uma chegada tranquila. O legal foi o pouso: o piloto fez de forma que os dois lados da cabine pudesse ver Ushuaia por alto... foi lindo, fiquei emocionada, com direito a aplausos quando a aeronave chegou em solo.

Depois de pegar as malas e passar pela aduana, encontrei o Mario Barros, dono da agencia Brasileiros em Ushuaia, que me prestou apoio durante os dias que estive em Ushuaia e me ajudou com os passeios.

Por falar nos passeios, vou falar um pouco sobre os passeios que fiz em Ushuaia.

Trem do Fim do Mundo e Parque Nacional Terra do Fogo

O Trem do Fim do Mundo, também chamado de "O Trem dos Presos" é uma das principais atrações da Ushuaia, num passeio que permite conhecer parte da história da Terra do Fogo e do que foi um dia, o trem do presídio. O percurso é feito na réplica do trem que transportava os presidiários para trabalhar e abastecer lenha à população de Ushuaia há 100 anos. 

Eu, assim como os demais brasileiros que estavam na excursão não animamos para pegar o trem. Então fizemos uma passada rápida pela estação, tiramos fotos e seguimos parque a dentro com a van da empresa de turismo. Não arrependi de não ter pego o trem. Com a excursão tive a oportunidade de conhecer mais o parque, a Bahia de Lapataia, o lago que não lembro o nome e o museu do parque do fim del mundo - com direito a capuccino no final. O parque em geral tem muita coisa para se fazer, trilhas de poucos minutos e outras de horas. Vale a pena tirar um dia para conhecer.


Glaciar Martial


Subida ao Glaciar Martial -
cidade Ushuaia ao fundo
A minha visita ao Glaciar Martial foi no período da tarde, mesmo dia da visita ao Parque Nacional. Esse foi o meu primeiro contato com a neve.

Na verdade, para chegar até o glaciar foi preciso subir uma montanha coberta de neve, que também é usada como pista de esqui no inverno, e no final da subida ficamos aos pés do glaciar. De lá é possível ver a cidade. Ele é como se fosse um mirante.

Eu como viajante e meio criança aproveitei ao máximo: brinquei, rolei, fiz guerra de neve com o guia, ainda subi com uma garrafa de cerveja e bebi lá encima depois dela dar uma leve gelada com a neve.

Navegação pelo Canal Beagle e Farol do Fim do Mundo

Farol Les Eclaireurs -
Farol do Fim do Mundo
No mesmo dia que cheguei na cidade fiz a Navegação pelo Canal Beagle, onde peguei um catamarã no porto turístico e fui conhecer o canal Beagle e o famoso farol do fim do mundo. Na verdade o nome dele é Farol Les Eclaireurs e foi simbolicamente dado como Farol do Fim do Mundo por ser bem icônico e estar completamente isolado em uma ilha. O verdadeiro Farol do Fim do Mundo fica bem mais ao sul, bem na saída para o oceano Atlântico.


O catamarã passou ao lado da ilha do farol e pude vê-lo bem de perto. Apesar do frio e do vento gélido, consegui tirar algumas fotos.

Além do Farol do Fim do Mundo, o passeio com o catamarã pude contemplar as ilhas dos pássaros e dos lobos marinhos. Ainda paramos em uma das ilhas e fizemos uma pequena trilha, que por sinal era toda demarcada para evitar que alguém pisasse nas áreas de maior preservação.

Ao final do passeio, quando o catamarã retornava para o porto, fiz um pequeno esforço e voltei pelo lado de fora da cabine, isso tudo para aproveitar o fim de tarde e ver a cidade de frente... foi sensacional.

Lago Fagnano

Lago Fagnano
Minha aventura pelo lago Fagnano foi feito com 4x4(Dia de Estancia) pela empresa Brasileiros em Ushuaia. Foi um dia de muita diversão. O Lago fica a 100km de Ushuaia, e para chegar até ele passamos pegamos a Ruta 3 que corta a cordilheira dos Andes, com direito a parada na estrada para brincar com a neve, nos mirantes e no Paso Garibaldi com vista para o Lago Escondido.


Castoreiras
A estancia é linda. De um lado se vê o bosque, do outro o imenso lado e ao fundo tem as montanhas da cordilheira. Após caminhar pela região e tirar fotos, terminamos em uma longa prosa com o nosso guia, com direito a muita comida e cerveja Quilmes. 








Laguna Esmeralda

Foi o último passeio que fiz em Ushuaia e com certeza era o mais esperado. Segundo o Mario da agencia brasileiros em Ushuaia, era o mais belo de todos que eu havia feito. Na sexta pela manhã a van passou no hostel para me buscar, assim como os demais aventureiros e seguimos novamente pela Ruta 3 até o início da trilha que nos levaria a Laguna.

Trekking rumo a Laguna Esmeralda

Apesar do frio e ser uma trilha difícil, eu a considerei tranquila e consegui fazer sem problema. A única dificuldade é que errei nos agasalhos e acabei passando calor. Mas nada que tirar uma das blusas de frio não resolvesse. 
A região é magnifica... em alguns pontos a neve já havia derretido e o som dava a impressão que havia uma cachoeira por perto. Para chegar a laguna, passamos por bosques e castoreiras, algumas subidas um pouco puxadas e onde a neve já havia derretido parecia que pisava em uma enorme esponja.

Laguna Esmeralda
Algumas horas de trekking e chegamos a belíssima Laguna Esmeralda. Eu faminta depois do trekking, primeiro sentei para comer meu lanche e depois fui curtir a Laguna no meio do frio. Claro que de fora.... não deu para tomar banho nela. = )







Ushuaia foi o destino que amei conhecer nesse mochilão e superou todas as minhas expectativas.